A esperança média de vida tem vindo a aumentar bastante nos últimos tempos, os avanços da Medicina têm ajudado a curar inúmeras doenças que até então eram causa de morte e o número de bebés que os casais têm actualmente é bem menor que os seis, oito ou mais filhos que antigamente compunham uma família.
Perante este cenário o número de pessoas com mais de 65 anos é hoje bastante elevado.
É com muito orgulho que nos encontramos nesse grupo… o grupo das pessoas que passaram pela infância, pela adolescência, pela vida adulta e agora saboreia, com mais ou menos dificuldades, aquilo a que muitos chamam a velhice.
Mas para vivermos todos o melhor possível esta fase das nossas vidas é fundamental esclarecer alguns mitos que a sociedade (e até alguns de nós) tem acerca dos ditos “idosos”, palavra que nem gostamos muito de usar…
Há por aí quem diga que os mais velhos já não são capazes de aprender e até se escudam no ditado popular que diz que “burro velho não aprende línguas”. Nada mais errado!
Eis alguns testemunhos acerca deste mito:
“Aprendi aos 70 anos a fazer coisas que nunca fiz quando tinha 20 e 30 anos”. D. Josefina
“Todas as pessoas aprendem, embora umas mais depressa do que outras. Eu aprendi a usar um computador com 83 anos”. Sr. Miguel
“Eu aprendi Inglês aos 73 anos”. Sr. Filipe
“Aos 77 anos comecei a ir à piscina e estou a aprender a nadar”. Sr. Romão
“Aprendi com 73 anos a ir ao computador e a jogar dominó”. D. Nelsa
E depois disto. Ainda acham que os idosos não são capazes de aprender?
Também há quem atribua a teimosia aos velhos e dizem “os idosos são todos teimosos”! Bem, nós conhecemos por aí muita gente nova bem mais teimosa que nós e sabemos que envelhecemos conforme vivemos, ou seja, os que de nós eram teimosos em novos vão ser velhos teimosos e os que de nós não eram antes teimosos também não o são agora.
É como diz a D. Orlanda “nem todos são… isso não é da idade, é da pessoa”.
Os problemas de memória são talvez das coisas que mais nos preocupam, mas como nenhum de nós tem Doença de Alzheimer ou qualquer outra demência sabemos perfeitamente quem somos, onde estamos e quem são as pessoas que insistem em perguntar “sabe quem eu sou?”. Ora, é claro que sabemos, ninguém aqui é tolinho!
O nosso cérebro também envelhece e em resultado disso vêm as falhas na memória a curto prazo, por isso é que nos lembramos perfeitamente de coisas que aconteceram há 30 anos e não nos conseguimos lembrar tão bem do que aconteceu ontem.
Como começamos todos a envelhecer a partir do momento em que nascemos, lamentamos dizer… mas todos vão acabar por sentir as partidas que a nossa memória nos vai pregando. A ilustrar isso diz a D. Ercília que a sua filha tem 43 anos e está mais esquecida do que ela! E desdramatiza dizendo que “eu já não tenho a minha memória como antes, mas se não me lembro agora lembro-me daqui a um minuto ou dois”.
Também há quem confunda velhice com doença… Bem, “eu tenho 84 anos e felizmente nunca estive doente” diz o Sr. Miguel.
Com a idade aumenta a probabilidade de se contrair certas doenças… mas o que é para um estar doente pode não ser para outro… A D. Ercília volta a dar o seu testemunho: “Sou diabética, mas isso para mim nem conta. Como me sei tratar e já o faço há muito tempo nem o considero doença”.
Então, se afinal nem todos os idosos são doentes se calhar nem todos são dependentes… A D. Florinda diz que só precisou de ajuda de outras pessoas quando teve o AVC, mas agora que recuperou dispensa-a perfeitamente!
Os idosos são todos iguais? Se nós temos 5 dedos na mão e nenhum deles é igual ao outro (como nos relembra a D. Carminha), íamos nós ser todos iguais? “Temos é que ser todos respeitados, os que falam mais, os que falam menos…” relembra o Sr. Miguel.
E para quem não sabe, nós, os idosos ainda podemos contribuir muito para a sociedade.
“Eu contribuo para a economia familiar. Lavo a loiça, lavo a roupa, cozinho…” – D. Ercília
“Eu tomo conta do neto, ajudo a minha filha” – D. Josefina
“Fazemos parte do eleitorado” – Sr. Miguel
Um outro mito prende-se com a ideia que todos os idosos sentem solidão ou vivem isolados. Alguns certamente que sim, mas nem todos…
A este respeito podemos dizer que:
“Eu já senti solidão, mesmo tendo pessoas em casa, mas hoje não”. D. Nelsa
“Tenho sempre muitas coisas. Leio, ouço música… Não tenho tempo para isso!”. Sr. Miguel
“Aqui somos todos amigos”. Sr. Ludovico
“Eu sinto-me alegre. Tenho aqui o meu companheiro e quando não o tenho os filhos telefonam”. D. Emília
Talvez um dos piores mitos é acreditar-se que os idosos voltam a ser crianças. Como diz o Sr. Miguel “uma pessoa é velha, mas não é criança… temos tanta experiência que acumulámos durante os anos que já passaram…”.
Se alguns idosos chamam a atenção (como às vezes as crianças fazem) é porque precisam dela. Os jovens e os adultos fazem a mesma coisa quando não têm atenção!
Se alguns idosos, por motivos de doença, se tornam dependentes e precisam de ajuda com a higiene e alimentação, isso não faz deles crianças. Ou então vejamos, se uma pessoa de 30 anos tiver um acidente e ficar tetraplégico, precisando de ajuda para tudo, isso faz dele uma criança?
Diz a D. Vitória acerca desta falsa verdade que “querem-me fazer, mas eu não sou”.
E, porque a conversa já vai longa (e não queremos que nos acusem de ser conversadores, como todos os idosos, claro!!!), terminamos com o mito acerca da sexualidade dos mais velhos…
Será que os idosos não têm sexualidade?
“Eu sei de um senhor que tinha oitenta e tal anos e não largava a mulher!”. D. Carminha
“Na nossa idade os mimos têm muito valor. O resto uns podem e outros não”. D. Ercília
A sexualidade está intimamente ligada a afecto e quem não precisa disso? Até os velhinhos, acreditem!
Escrito pelos Utentes do Centro de Dia da Associação Âncora
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