A propósito da participação do Director de Curso nas IV Jornadas de Ciências de Ciências da Educação e da Formação, onde proferiu uma Comunicação subordinada ao tema: “Educação Social: desafios e contributos para uma intervenção na realidade social actual” junto se apresenta o respectivo texto.
Falar da realidade social actual é falar de modernidade, é falar da uniformidade dos estilos de vida, nos hábitos, no consumo, conduzidos por um mercado universal, é falar de avanços tecnológicos, é falar de riqueza, mas por outro lado também é falar de pobreza, de exclusão social, de marginalidade, racismo, pobreza, fenómenos que atingem uma grande parte da população. Daí os desafios que se colocam à Educação Social. Paulo Freire, no livro Pedagogia da Esperança refere a convicção de que é necessário ter esperança e sonhar que é possível transformar a realidade. Segundo o autor uma das tarefas da educação progressista é enfrentar as situações limite, os obstáculos e barreiras que precisam ser vencidas. Para tal é preciso ter esperança para romper essas "situações-limites", assumir uma atitude crítica frente à realidade actual, procurar ultrapassar o que nos querem dar como definitivo em acções de superação denominadas por Freire de "actos-limites", por forma levar as pessoas, em situação mais desfavorável, a descobri o "inédito-viável". O inédito-viável, é uma expressão utilizada por Paulo Freire para representar o sonho utópico que se sabe que só será possível alcançar através de uma praxis libertadora.
Justifico esta referência a Paulo Freire, por considerar que é sempre oportuno falar neste pedagogo sempre que se fala do Curso de Educação Social da Universidade do Algarve,, pois, como educador, como pesquisador, como cientista, Paulo Freire não conseguia ver a realidade do outro sem nela interferir como educador social, procurando sempre entender a realidade através da ciência e do compromisso de assumir a defesa dos que não têm voz nem vez na sociedade. Esta a razão porque no Curso de Educação Social da Ualg entendemos que a sua teoria é um modelo educacional a ser seguido, já que o que procuramos é aprender a colocar em prática os seus ensinamentos, porque tudo o que Freire escreveu encontra-se fundamentado em experiências vividas e não parece haver nada melhor para nós do que ensinar e aprender a partir de experiências vivenciadas, experimentadas, exactamente porque elas fazem reflectir sobre a existência humana. Seguindo o pensamento de Paulo Freire, existir é mais do que viver e sonhar é uma necessidade da existência humana, logo, como educadores, como pessoas, o nosso sonho deverá passar pela construção de uma sociedade menos feia, mais ética, mais estética, livre e muito mais decente. E, já que falamos de sonho…o nosso sonho é que a Educação Social seja capaz de contribuir para transformar a realidade, tornando-a uma sociedade melhor, mais justa, que assegure a participação activa dos cidadãos, que promova formas de combate contra toda forma de exclusão e discriminação, que defenda os direitos humanos, que contribua para afirmar os ideais democráticos, que permita que todos possamos sonhar, já que uma larga faixa da população portuguesa está proibida de sonhar face aos problemas com que se confrontam ao nível da exclusão, da discriminação, da pobreza, ou pior ainda, da extrema desigualdade da riqueza. Sabemos que este sonho de um mundo melhor é um tema recorrente quer nos discursos dos políticos, das instituições, nos fóruns, nos seminários, contudo, esse facto não deve retirar importância a este “sonho”, o que se exige é que cada um cumpra a sua parte, ou seja, que cada um de nós contribua para alimentar o sonho com a sua participação, pois, da soma das partes talvez o sonho se concretize em algo mais real. E, para que haja realmente transformação significativa e que possamos contribuir com a nossa parte, é necessário participação activa, sob a forma de acção individual ou colectiva, sermos voluntários, solidários, educar para a mudança de mentalidades, educar para a eliminação de preconceitos, contribuir para que as pessoas comecem a acreditar que somos todos iguais nas diferenças. Isto depende de nós, professores, educadores, alunos, licenciados…ou será utopia?
E será utopia querer a afirmação do Curso de Educação Social da Universidade do Algarve, e ajudar a consolidar a imagem social desta figura profissional, sobretudo na nossa região, tal como fizemos com a E.I.C. É que, na verdade, um dos nossos principais desafios do momento é ajudar a consolidar a cultura profissional do educador social, sobretudo do educador social a formar na nossa Universidade e sensibilizar a comunidade, as instituições, as potenciais entidades empregadoras qual o seu perfil de competências, as áreas em que pode intervir, como pode contribuir para o desenvolvimento social e comunitário e justificar por que se devem criar postos específicos para eles/as, já que o seu papel pode ser muito importante face a situações de risco e mal estar social que se manifesta nas formas da pobreza, da marginalidade, de consumo de drogas, de abandono, de exclusão, de iliteracia, de desvantagem social, das famílias em risco, etc. Estamos a falar de Educação Social, um termo polissémico que tem sido utilizado numa grande variedade de contextos, o que, por vezes, provoca algumas indefinições. O educador social estabelece-se, intervindo com as mais diversas faixas etárias (crianças, jovens, adultos, idosos) e nos mais diferentes contextos sociais, culturais, educativos e económicos. Esta polivalência interventiva favorece a profissão ao nível da empregabilidade, embora possa criar algumas dificuldades relativamente à formação de um conceito profissional que seja facilmente identificado. Contudo, parece haver algum consenso relativamente ao facto da Educação Social se centrar na socialização dos indivíduos, ter como população alvo grupos de pessoas em situação de risco social e ocorrerem em contextos de educação não formal. É um tipo de intervenção social realizada desde estratégias e conteúdos educativos, em áreas de promoção do bem-estar e de melhoria da qualidade de vida, mediante uma série de mecanismos (serviços sociais, políticas educativas e sociais), no sentido de resolver problemas de grupos marginalizados, agir face a problemáticas que afectam a população em geral. Tratando-se de uma área de formação recente em Portugal, é de referir a existência de cursos de cariz semelhante em várias instituições de ensino superior em Portugal. Num universo de cerca de 2000 educadores sociais existentes no nosso país e com a saída de cerca de 200 novos educadores por ano, as perspectivas são de evolução e consolidação da profissão no contexto do trabalho sócio-educativo em Portugal. Refira-se que, face à importância que tem vindo a assumir no panorama nacional a figura profissional do Educador Social, constitui-se, com sede em Santarém, O Conselho Nacional de Educadores Sociais, que tem como principal objectivo ser um ponto de encontro das sinergias dos educadores sociais. No âmbito do CNES têm sido criados fóruns, revistas, páginas de internet, entre outras actividades. Em paralelo surgem outras iniciativas associativas, como a Associação Nacional de Educadores Sociais, a partir de licenciados pelo ISCE de Odivelas. Contudo, a profissão de educador social apresenta alguns problemas, quer ao nível da própria carreira profissional, por ser uma profissão "nova", quer ao nível da relação laboral com as entidades empregadoras, o que justificou a integração dos educadores sociais no Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Solidariedade e Segurança Social. Em jeito de remate final, gostaria de esclarecer que este Curso, denominado de Curso de Educação Social, resulta da adequação ao paradigma de Bolonha, do anterior Curso de Educação e Intervenção Comunitária. Hoje é muito diferente do Curso de E.I.C. que se iniciou há uma dezena de anos e que, inicialmente, estava centrado na vertente da Educação de Adultos com uma forte componente de animação comunitária no sentido da animação sócio-cultural. Criado como bacharelato para activos, a Prática demonstrou que estas áreas não cobriam quer as expectativas dos alunos quer as necessidades do mercado. Tivemos de ter em conta que a sociedade cada vez mais cria focos de pessoas inadaptadas, sem possibilidades económicas e com variados problemas de integração social. Gera-se muita riqueza, mas também injustiça social, miséria, desemprego, discriminação, inadaptação. Daí começarmos a dar maior atenção a um novo campo de intervenção relacionado com a educação especializada de pessoas mais limitadas no seu desenvolvimento pessoal e social e requerem um maior apoio educativo para melhorar a sua qualidade de vida como por exemplo crianças e jovens em risco, pessoas com deficiência, jovens inadaptados, etc.. Assim, a designação de Educação Social atribuída ao Curso surge pela natureza da função técnica e profissionalizante prevista para os seus diplomados. O Plano de Estudos, entendido como uma matriz com três eixos ou dimensões fundamentais: a dimensão de educação/formação de natureza sobretudo teórica; a dimensão de educação/formação teórico-prática e uma última dimensão de natureza prática e/ou de inserção profissional, teve em consideração cursos idênticos com finalidades idênticas e conteúdos funcionais muito idênticos, existentes em várias instituições de ensino superior, nacionais e estrangeiras, que permitam a mobilidade entre estudantes.
Joaquim do Arco
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