sexta-feira, 27 de março de 2009

A propósito do Seminário "Diálogo inter- religioso"

CRÓNICA


A intenção foi boa… valeu a pena? Seguramente que sim, a experiência deverá ser para repetir? Acho que sim… foi um diálogo inter-religioso? Não… foi um diálogo ecuménico entre três representantes de igrejas cristãs, mas foi interessante e os alunos e alunas do Curso parecem ter dado por bem empregue aquelas duas horas passadas no Anfiteatro Paulo Freire. E, porque acho que esta experiência deverá ser repetida? Porque os futuros educadores sociais deverão estar preparados para adquirir novas competências de acordo com uma nova realidade social. A face do nosso mundo tem mudado muito rapidamente nos últimos anos e tem gerado mudanças e contradições, visíveis nos comportamentos das pessoas e comunidades. Parece que a paz entre as pessoas e as comunidades também irá depender da paz entre as religiões. Há quem afirme que não estamos numa época de mudanças, mas, sim numa mudança de época. Estes novos tempos parecem criar novas exigências para a formação do educador social, assim como, a necessidade do aprender permanente. O educador social deve ser capaz de trabalhar com múltiplos olhares que possibilitem uma leitura ao mesmo tempo rápida e de conjunto, da realidade social. Sobretudo, num tempo em se assiste a um reavivar do fervor religioso, ao surgimento de novos movimentos religiosos e até ao aparecimento de certos fundamentalismos. Assim, o educador deverá ter a capacidade de problematizar a complexidade, a incerteza, a singularidade e a indeterminação das situações. Daí que, criar espaços de discussão sobre a pluralidade religiosa possa constituir uma boa estratégia de desenvolvimento e de reflexão sobre a vida, sobre a dignidade da pessoa humana e a dignidade das diferentes culturas. Por isso mesmo, devemos discutir também, no âmbito do Curso, a pluralidade religiosa e não apenas o ecumenismo, pois, apesar de na nossa sociedade a igreja católica tem um estatuto quase oficial, não me parece que haja qualquer razão para privilegiar mais o debate com umas do que com outras. Como, muitos outros e outras, eu também cresci com uma educação religiosa católica, fiz a catequese a e a primeira comunhão, mas à medida que crescia começava a achar que muita daquela educação religiosa não fazia sentido… e continuo a não conseguir entender muitas das posições assumidas pela igreja católica, nomeadamente em relação aos homossexuais, ao aborto, à existência de mulheres sacerdotisas, ao divórcio, ao casamento dos padres. Ainda há pouco tempo um Padre com responsabilidades na Igreja católica afirmava que os homossexuais "Não são normais" já para não referir a celeuma sobre a afirmação do papa em relação ao não uso do preservativo em África. Também é verdade que asneiras ouvimos um pouco por toda a parte, o que não valida ou invalida que todas as igrejas não sejam merecedoras de credibilidade, para além de que quase todas as confissões religiosas se auto-intitulam como as que são a religião verdadeira e para demonstrar isso mesmo, cada uma delas recorre a algo de diferente.
Como Educadores Sociais devemos mesmo é defender a liberdade moral e religiosa dando o direito às pessoas de fazerem as suas opções religiosas como fazem as opções políticas ou outras quaisquer. Se existe um direito em que todos concordamos, é que todos e todas têm o direito à liberdade…
(Joca)
Esta crónica foi lida no programa Socializar por aí ( 26/03)


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