Também eu tenho dois amores, em termos estritamente profissionais, a educação social e o ensino primário. De educação social falei num programa anterior, por isso vou centrar a minha crónica no Ensino Primário. Não, não estou a confundir conceitos, hoje a denominação é 1º Ciclo do Ensino Básico, mas eu prefiro a denominação de Ensino Primário, e foi, há precisamente trinta anos que quis ser professor primário, o que me levou a frequentar entre 1975 e 1978 o Curso do Magistério Primário. E, uma parte de mim ainda se considera professor primário…
Mas, com a reforma educativa em 1986,o Ensino Primário passou a denominar-se 1º ciclo do Ensino Básico, uma mudança mais pomposa que não deixava antever “boa coisa”. E não deixava mesmo…com o passar dos anos, tem vindo a observar-se alguma perda de identidade e uma progressiva descaracterização do ensino primário. Veja-se a actual organização curricular que disciplinarizou, por completo, este nível de ensino que se pretendia global e integrado. As orientações para a gestão curricular, no 1º ciclo do ensino básico, determinam tempos mínimos de leccionação por disciplina e por áreas. Esta balcanização disciplinar só pode ser determinada por quem nada sabe sobre o que é o ensino primário…um nível de ensino cuja principal característica é a monodocência que compreende a iniciação às aprendizagens de forma integrada e direccionada para uma visão global do processo Ensino/Aprendizagem.
Afinal no que querem transformar o Ensino Primário, num ensino esclerosado e rígido? Depois vêm pedir contas à escola quando não são capazes de prestar boas contas do que têm andado a fazer em termos de reformas educativas. Se fossem competentes, certamente, que a escola primária também podia assumir com coerência o seu papel, já que não é o único agente da mudança, é só um dos vários agentes. E se assim é porque será que culpam a escola primária de ser só ela ineficaz? A escola primária não pode ser eficaz se o resto da sociedade não o for também. O Ensino Primário é hoje, um espaço de enorme visibilidade, que é, ao mesmo tempo, considerada, por alguns, como um dos principais responsáveis pelos males que enformam a Educação e, o centro político das paixões de mudar o panorama educativo que se vive em Portugal. A Escola Primária é vista como lugar estratégico, como unidade básica de mudança gerada desde “baixo”. Um olhar atento sobre este nível de ensino, a segunda etapa da educação básica, implica reconhecer a complexidade desta instituição educativa onde interagem diferentes culturas, tradições, diferentes modos de acção pedagógica, heterogeneidade de práticas, desequilíbrios de poder. Eis aqui a convergência com a educação social. A educação social procura promover a mudança social, a resolução de problemas no contexto das relações humanas e a capacidade e empenhamento das pessoas na melhoria do seu "bem – estar". Aplicando teorias de comportamento humano e dos sistemas sociais, a educação social concentra-se no relacionamento das pessoas com o meio que as rodeia. Os princípios de direitos humanos e justiça social são elementos fundamentais para a educação social que abrange as múltiplas e complexas interrelações que se estabelecem entre as pessoas e o meio que as envolve. A sua missão é ajudar as pessoas a desenvolverem todas as suas potencialidades, a enriquecerem as suas vidas e a prevenir as disfunções. Isto quer dizer que a utopia de uma melhor educação e uma escola mais humana, mais inteligente, mais solidária é indissociável da missão da educação social de contribuir para uma sociedade mais justa, mais culta, mais solidária e ecologicamente mais equilibrada. Vamos fazer com que a sociedade se desenvolva de tal maneira que também influencie a mudança da escola…sem reformas educativas anedóticas.
Joaquim do Arco
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