segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Coluna de Educação Social [II]

Amanhã no jornal:


UM OLHAR SOBRE A COMUNIDADE

DE VALE SILVES


Caro leitor, este artigo é apresentado no âmbito das Práticas, do Curso de Educação Social, da Escola Superior de Educação da Universidade do Algarve; um artigo que traduz, de forma sucinta, aquela que para nós tem sido a experiência mais marcante, a nível pessoal e pré-profissional, do percurso académico.
Foi-nos solicitada a realização de um diagnóstico, com vista à construção de um Projecto Social que desse resposta às reais necessidades, prioridades e aos interesses de uma dada população.
O local escolhido para a realização do diagnóstico e a aplicação do respectivo projecto social, foi o Centro Social e Comunitário de Vale Silves, em Boliqueime.
Foi esta a instituição que nos despertou atenção, pela boa imagem que tem passado, através das acções de resposta social que tem vindo a desenvolver junto da comunidade, e pelo espírito de entreajuda que abunda neste contexto.
O espaço em si teve um peso considerável na escolha desta instituição: um edifício recente e amplo, com excelentes condições infraestruturais, de trabalho, higiene, com material adequado e adaptado às especificidades e necessidades do público-alvo…enfim, reunia condições propícias para o desenvolvimento do nosso Projecto Social.
Os passos seguintes foram dados no sentido de conhecer os modos de vida, as necessidades e as preocupações, as aspirações e os interesses desta comunidade rural.
No espaço circundante ao centro comunitário, emerge um cenário tranquilo e agradável, mas simultaneamente inquietante pelo contraste que apresenta em relação ao meio urbano. Logo pela manhã, a carrinha do pão, do peixe, da fruta e os cafés proporcionam um ambiente familiar e acolhedor. Aqui surgem as primeiras conversas do dia. Junto à estrada que dá para o Centro Comunitário, os bancos de pedra são os fiéis confidentes das conversas diárias de alguns idosos que aguardam por um espaço dinamizado, onde possam conviver abrigados das soalheiras e também das tardes frias de Inverno. Pelos caminhos afora, flutua um aroma doce e suave a alfarroba.
É um facto que esta comunidade rural vive com inquietações, derivadas dos problemas sociais que enfrenta: um número significativo de famílias a viver em casas degradadas, famílias monoparentais, situações de isolamento social, entre outros. O Centro surge, assim, como uma resposta social vital para estes problemas, desenvolvendo acções de intervenção com vista à reorganização do tecido social, as quais são reconhecidas como valiosas pela população local.
A presidente e os vários técnicos da instituição consideram que têm desenvolvido um bom trabalho. Porém, gostariam de alargar os serviços que têm prestado, pois realmente existe a necessidade de auxiliar as dezenas de utentes em listas de espera. Vestem a camisola, arregaçam diariamente as mangas para socorrer as famílias que têm filhos e, sobretudo, os idosos que muitas vezes ficam entregues a si próprios ou à solidariedade alheia. Tudo isto assenta num visível comprometimento social: estas pessoas trabalham com e para a comunidade, e dando o seu melhor contribuem para a harmonia social deste contexto. O trabalho realizado ultrapassa, pois, as barreiras do simples cumprimento de obrigações ou das tarefas profissionais.
Foi, pois, este espírito que nos estimulou e inspirou para esta, que tem sido a nossa primeira experiência como Educadores Sociais, num contexto onde o grau de envolvimento com o público tem sido crescente: o abraço acolhedor destas gentes, permite-nos sentir uma integração plena no tecido social.
Esta caminhada tem sido marcada por momentos de incerteza, inquietações, é certo, pois sentimos o peso da responsabilidade que advém da finalidade deste trabalho: o trabalhar para a transformação positiva emancipadora destas pessoas, desta realidade. Este é, sem dúvida, um desafio enriquecedor.
De tudo faremos para dar sentido aos pressupostos do curso de Educação Social, para a melhoria da qualidade de vida do público-alvo deste projecto: os idosos da comunidade.
Andreia Monteiro, Francelino Monteiro, Celina Ramos e Lígia Pereira

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