África ou para lá caminho
Quanto a África, a minha sensação mantém-se já desde a Cimeira União Europeia –África. Agora a televisão bombardeia-nos com o Chade, a Etiópia e a revolta popular de Maputo, despoletada pelos transportes, que causou já 3 mortos e 40 feridos, números de hoje. Na minha santa ignorância, tento que os comentadores especialistas me ensinem algo, que me expliquem o que está a acontecer, que me enquadrem com o contexto, que me dêem qualquer coisa, uma só explicaçãozita, nem que seja muito pequenina…!
Provavelmente sou obtuso, porque regra geral fico mais ou menos como estava. Noto no entanto o seguinte, que queria partilhar convosco: primeiro, que um apreciável número de análises «africanas» insiste nos tiranos, nos regimes ditatoriais e na corrupção, nessa corrupção que enriquece os tiranos com as somas que nunca chegam às populações. Todo e qualquer remédio, toda e qualquer solução é portanto pouco mais do que uma enorme inutilidade. Segundo, vejo a grande preocupação das grandes potências em ficar neutralmente de fora, quando a questão envolve, como é frequente, uma guerrilha ou uma guerra. As tropas francesas não estão no Chade? Pois sim, estão, asseguram o funcionamento do aeroporto, que é o que tem permitido às forças do governo atacar, pelo ar, as forças rebeldes que – aparece o Presidente Francês a sublinhar – já foram condenadas pelo Conselho de Segurança e pela União Africana. Estão lá, claro, para ajudar a evacuar todos os estrangeiros. Mas a França ficará de fora, continua o presidente, deixando as pessoas do Chade a resolver os seus problemas.
Eu acho que sim… afinal, que faz a Europa em África? Bom, durante alguns séculos, a Europa, com Portugal à frente mas prontamente seguido pelo Reino Unido, França, etc etc., durante alguns séculos, dizia eu, a Europa tornou os Africanos escravos. Primeiro, realmente escravos. Depois, tornou-os colonizados e domesticados, apenas uma variante da situação de escravatura. Durante séculos, a Europa tirou-lhes as línguas tradicionais, o direito à cultura, redesenhou-lhes as fronteiras, acicatou ódios entre as várias populações indígenas para melhor lucrar com isso, ensinou-os a ser submissos e a não discutir ordens, substituiu-os em tudo o que era administração ou gestão da coisa pública, da coisa privada, enfim, da vida. Durante séculos a Europa retirou de África matérias-primas e trabalho a troco de nada; inventou o desenvolvimento para continuar a fazer a mesma coisa com outros nomes. Quando magnanimamente os países Europeus deram a independência aos Africanos, não os ressarciu de séculos e séculos de destruição e de exploração. Não… a Europa veio-se embora, deixando países destruídos à gestão finalmente Africana, ou simplesmente deixando que outros (como os Estados Unidos, a Rússia ou respectivos satélites e aliados estratégicos) lutassem, de facto, pela hegemonia do petro-dólar ou por outra coisa qualquer. Mais de metade dos países Africanos são ditaduras? Olha que grande novidade. Olha que estranho! Mas claro, a Europa não tem responsabilidade nenhuma nisso, ou tem? O mais pequenino continente do mundo, que é também o mais violento e o que mais pilhagem fez pelo mundo fora, deve continuar a fazer o que faz bem: vir-se embora quando já não pode ganhar mais nada com isso.
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